A arte de ver...

A arte de ver anda de mãos das com a arte de sentir. Não apenas dos olhos, mas também do estado da nossa vida interior, depende o nosso modo de ver e ouvir o mundo. Estritamente falando, ver e ouvir são estados do coração. Vemos e ouvimos segundo o que está cheio o nosso coração. Portanto, para ver e ouvir bem, ter olhos, não basta. É preciso ter um bom coração.

O Ego é a trave que cega o coração. Não importa o estado dos olhos, enquanto o coração permanecer sobrecarregado de “EU”, pode-se dizer que a pessoa tem olhos, mas não vê. Está cega - e surda - pelo descontrole dos seus desejos, ilusões, raivas, medos, preocupações e ansiedades.

Sim, a pior cegueira é a do coração. A pessoa tem olhos, mas interpreta a vida a partir das sombras, vazios e loucuras da sua vida interior. Nas profundezas do coração, a vida dessas pessoas, se resolve a partir de suspeitas, espreitas e desconfianças. Não entendem nem compreendem a verdade do que os seus olhos veem. Estão cegas pela insensibilidade do coração. É no coração que habita a verdadeira escuridão que cega e faz tropeçar.

Com efeito, a verdadeira tragédia da visão não está em ser cego dos olhos, mas em possuir um coração de pedra. Helen Keller era cega, mas via as belezas da vida com mais profundidade do que a maior parte de nós. Um coração bom aviva e ilumina os caminhos da vida. Sim, a luz que brilha num coração bom, rompe o cativeiro de qualquer deficiência física e a pessoa se torna luz do mundo, modelo de superação e exemplo de vida a ser seguido e imitado.

Mas um coração insensível e egoísta adoece todos os nossos sentidos; mata o corpo e coloca em perdição a alma. Cega os olhos, ensurdece os ouvidos, perverte a sensibilidade e rouba o que há de mais belo no ser humano, a sua capacidade de ver, ouvir e sentir a vida a partir do amor, da fé, da esperança e da bondade...

Presa ao seu próprio "Eu", a pessoa tem olhos, mas não sente as belezas da vida. Não sente o cheiro da chuva, não sente a textura de uma flor, não sente o vento no rosto... A graça da vida passa através dela, sem que ela a sinta, sem que ela se deixe absorver pelos mistérios da existência...

Ah, meu irmão, meu igual, qual foi a última vez que você parou para ouvir um pássaro cantar? Não! Mil vezes não... Ter olhos não basta. Para ver bem, é preciso ter alma leve e espírito livre. É preciso ter humildade e sensibilidade. Com efeito, onde falta humildade e pureza de coração, ainda existe escuridão e cegueira. Onde falta sensibilidade e compaixão, ainda existe surdez. Sim, onde falta leveza de coração, ainda existe escuridão... Absoluta e aniquilante escuridão. É isso.

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