6.8.14

6 DE AGOSTO DE 1945 - BOMBA ATÔMICA DE HIROSHIMA


Se me pedissem para mencionar a data mais importante da história e pré-história da raça humana, eu responderia sem a mínima hesitação: o dia 6 de agosto de 1945. A razão é simples.

Desde o alvorecer da consciência até o dia 6 de agosto de 1945, o homem precisou conviver com a perspectiva de sua morte como indivíduo.

A partir do dia em que a primeira bomba atômica sobrepujou o brilho do Sol em Hiroshima, a humanidade como um todo deve conviver com a perspectiva de sua extinção como espécie.

Aprendemos a aceitar a efemeridade da existência pessoal, ao mesmo tempo em que tínhamos como certa a potencial imortalidade da raça humana. Essa crença deixou de ser válida. Precisamos rever nossos axiomas.

A tarefa não é fácil. Antes de uma ideia se firmar na mente, existem períodos de incubação. 

A doutrina de Copérnico, que tão drasticamente degradou o status do homem no Universo, demorou quase um século para penetrar na consciência dos europeus.

A nova degradação de nossa espécie para o status de mortalidade é muito mais difícil de digerir.

De fato, tem-se a impressão de que a novidade dessa perspectiva já se desgastou mesmo antes de ter sido adequadamente absorvida.

O nome Hiroshima já se tornou um clichê histórico, como o célebre "Boston Tea Party".

Retornamos a um estado de pseudonormalidade.

Apenas uma diminuta minoria tem consciência do seguinte fato: a partir do instante em que abriu a caixa nuclear de Pandora, nossa espécie tem vivido com os dias contados.

Cada época teve suas cassandras, conquanto a humanidade tenha conseguido sobreviver a suas sinistras profecias.

Entretanto, esta confortante reflexão já não é válida, pois em nenhuma época anterior tribo ou nação alguma possuiu o instrumental necessário para tornar este planeta inadequado para a vida.

Elas só podiam infligir danos limitados a seus inimigos — e assim o fizeram sempre que se lhes apresentou uma oportunidade.

Agora, as nações podem tomar toda a biosfera como refém. Um Hitler, nascido vinte anos mais tarde, provavelmente teria feito isso, provocando uma Götterdämmerung (catástrofe) nuclear.

Arthur Koestler - Do livro: Jano